domingo, 21 de janeiro de 2018

Economia do mar depende de capital humano qualificado


O sector já emprega cerca de 160 mil portugueses, mas barómetro da PwC defende maior aposta na qualificação do capital humano de forma a melhorar a eficiência e produtividade.

Apesar da crise, a economia do mar foi resiliente e conseguiu «resistir bem» aos tempos mais turbulentos. E isso é visível pelo crescimento contínuo das exportações na fileira alimentar do mar, pelo número de turistas – que utilizam as nossas praias e viajam em transportes marítimos – e pela carga nos portos nacionais. «As evidências que o LEME tem reportado ao longo dos seus oito anos de existência são claras no que se refere à grande resiliência da economia do mar como um todo. Ou seja, nos picos da crise a economia do mar aguentou-se e quando a crise abrandou a economia do mar cresceu. Neste contexto, a evolução geral da economia do mar é positiva», revela a 8.ª edição do estudo LEME – Barómetro PwC da Economia do Mar, apresentado esta semana em Lisboa.
Ainda assim, Miguel Marques, partner da consultora, acredita que o sector poderia estar ainda mais forte, uma vez que continua a enfrentar vários obstáculos. Daí defender que muitos dos desafios estão relacionados com a necessidade de redução da burocracia, a necessidade de consistência das medidas no médio e longo prazo e a necessidade de investimento e financiamento pacientes, ou seja, que tenham maturidades também de médio e longo prazo. Outro desafio considerado importante é o da necessidade de renovação das frotas da marinha de guerra e de comércio, assim como a da pesca.
Capital humano 
Apesar dos recursos humanos associados a este sector terem melhorado nos últimos anos – mais de 160 mil em Portugal trabalham nas indústrias do mar, pesca, recreio e turismo – o barómetro continua a chamar a atenção para a necessidade de melhorar. E dá exemplos: em 2016, o número de pescadores e número de alunos colocados na 1.ª fase das candidaturas em cursos do ensino superior relacionados com o mar aumentou, mas em contrapartida o pessoal militar ao serviço da Marinha continuou a descer.
No entanto, o estudo da consultora aponta para a necessidade de dinamizar os diversos subsectores da economia do mar de forma a criar um impacto positivo no emprego, apostar na qualificação do capital humano de todos os subsectores para melhorar a eficiência e produtividade, assim como a capacidade inovadora do país.
Mas os desafios não ficam por aqui. É aconselhado também que o mar seja encarado como uma escola de talento e de competências base, como liderança, trabalho em equipa, flexibilidade, etc., aplicáveis a todos os sectores da economia portuguesa. «O ser humano apenas conhece uma pequena parte de todas as riquezas e potencialidades dos oceanos. Portugal deve investir no conhecimento e na investigação científica do mar Português», diz o documento. Um cenário que foi admitido pelos vários intervenientes que participaram na apresentação do estudo. Também o comandante Fernando Grego Dias, proprietário de dois navios, apontou para a falta de recursos humanos qualificados no sector.
Revolução industrial em marcha
Esta edição do LEME incluiu um inquérito a gestores de topo e personalidades da economia do mar. 90% dos inquiridos admite que a revolução digital terá um grande impacto no sector. 
«Os líderes das diferentes indústrias do mar, começam a ter a noção de que, se não abraçarem a revolução digital, aproveitando todos os seus benefícios e construindo bases sólidas de protecção contra ciberataques, a economia do mar será como uma embarcação à deriva num vendaval de transformações», revela Miguel Marques.
Ainda assim, o partner da PwC admite que «embora o interesse pelos temas da transformação digital tenha aumentado consideravelmente no seio da comunidade marítima portuguesa e as acções digitais no terreno tenham também iniciado caminho, o conhecimento dos riscos associados a ciberataques e sua mitigação é ainda incipiente».
Sector em crescimento
O Governo também já veio assumir a importância da economia do mar e assumiu que pretende duplicar o seu peso de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para 5% até 2020. A pensar nessa meta, o Executivo anunciou 600 milhões de euros para financiar projectos na economia azul até ao final da legislatura. E dá exemplos. O Fundo Azul terá uma dotação de 54 milhões de euros e pretende apoiar o financiamento das actividades emergentes assim como apoiar o financiamento da inovação e do aumento da intensidade tecnológica ligada a este sector.
Já a partir do segundo semestre do ano vai ser lançado o programa EEA Grants com uma dotação de 44,5 milhões de euros para financiamento de novos projectos empresariais e de investigação científica inovadores e sustentáveis.
O Executivo disponibiliza o programa Operacional Mar 2020 destinado ao sector das pescas e aquacultura com uma verba de 500 milhões de euros. Em relação a este último programa, a ministra esclarece que já foram transferidos 52 milhões de euros para as empresas do sector, em especial para as empresas de transformação, congelados, conservas e aquicultura.
Ao mesmo tempo, o ministério do Mar prepara-se para alcançar níveis recorde nos portos. De acordo com Ana Paula Vitorino, o Porto de Lisboa deverá registar um crescimento de 8% nas escalas e uma subida de 18% no número de passageiros durante este ano.
Também o de Leixões deverá manter a trajectória de crescimento verificada no ano passado e irá registar uma subida de 19% de cruzeiros, crescendo de 84 para 100 cruzeiros e um aumento de 33% de passageiros (passando de quase 72 mil passageiros em 2016 para mais de 95 mil em 2017).
«O novo ano que agora começa será mais um histórico para os portos nacionais», referiu a ministra durante a apresentação do LEME, elogiando ainda os resultados obtidos pelos portos comerciais no ano passado ao registar um movimento total de 95,8 milhões de toneladas, o que se traduziu num crescimento de 3% face a 2016. Um valor que, segundo a mesma, está de acordo «com a nossa estimativa prevista na estratégia para aumento de competitividade da rede de portos comerciais do continente-horizonte 2026».
Fonte: Ionline

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