sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Navio encontrado no oceano Ártico 168 anos depois

O Terror, barco comandado pelo explorador polar britânico Sir John Franklin, partiu em 1845 para completar a famosa "Passagem do Noroeste". Só agora apareceu. Deu filmes, livros e até canções.


O HMS Terror, barco comandado pelo explorador polar britânico Sir John Franklin, foi encontrado em óptimas condições, 168 anos depois de se ter afundado junto do Árctico, a região circunscrita pelo Oceano Árctico e o Polo Norte, que se situa a norte do continente americano. Franklin embarcou em 1845 e tinha como objectivo completar a “Passagem do Noroeste”, a viagem que passa na margem mais a norte do continente americano, onde se encontram o oceano Atlântico e o oceano Pacífico.
Na expedição seguiam dois navios, o HMS (Her Majesty Ship) Terror e o HMS Erebus, o navio principal da expedição, encontrado no fundo do mar em 2014.
Franklin liderou a expedição que zarpou no dia 19 de maio de 1845 com 24 oficias e 110 marinheiros de Greenhithe. Todos os que embarcaram na pequena cidade costeira morreram, naquele que foi considerado o “pior desastre da história da Marinha Real Britânica na sua história da exploração polar”, como informa o The Guardian.
A compilação de relatos de vários navios e as cartas enviadas pelos marinheiros permitiram aos investigadores perceber a progressão da expedição. Souberam, por exemplo, que no inverno de 1845 os barcos ficaram em Beechey Island, uma ilha de um arquipélago canadiano.
Depois, em Setembro de 1846, o Terror e o Erebus encalharam no gelo na ilha do Rei William, no arquipélago canadiano árctico. Uma carta deixada na ilha por dois dos oficiais informava que o capitão Franklin tinha morrido a 11 de Junho de 1847. A tripulação decidiu então que ia abandonar a ilha e andar em direcção ao Canadá. Dos que haviam embarcado já mais de vinte tinha morrido. Durante a travessia para o Canadá mais perderam a vida e já em terras canadianas morreriam os últimos tripulantes, a centenas de quilómetros da civilização.
Gravura do HMS Erebus e do HMS Terror. (Illustrated London News/Getty Images)
As procuras pela embarcação e tripulação duraram cerca de onze anos, mas não foram encontradas pistas sobre o paradeiro de nenhum dos navios ou marinheiros e o mistério do paradeiro do HMS Terror manteve-se durante várias décadas. Até que no passado domingo (11 de setembro) uma equipa da Artic Research Foundation navegava num veículo subaquático e encontrou o barco. O veículo terá entrado por uma escotilha e, segundo Adrian Schimnowski, o Director da fundação, terá navegado pelo corredor, captado imagens das cabines e da zona de armazenamento de comida “ainda com pratos nas prateleiras”.
O barco encontrava-se a 96 quilómetros do local onde os especialista supunham que estivesse afundado. Um tubo que existia no motor rudimentar do navio deixa poucas dúvidas de que este seja o Terror, informou Schimnowski ao The Guardian. “O navio parece ter sido tapado para suportar o inverno e depois afundou. Estava tudo fechado. Até as janelas estão intactas. Se se conseguir levantar esse barco da água e retirar a água de lá de dentro, muito provavelmente flutua”, acrescenta o Director da Arctic Research Foundation.

Sir John Franklin e a sua tripulação em retratos de 1845. (Hulton Archive/Getty Images)

A descoberta do Erebus

Já o HMS Erebus foi descoberto a 7 de Setembro de 2014, mais a sul do que o Terror. A descoberta do Erebus foi muito influenciada por uma lenda que circulava na tradição oral inuíte. Segundo a lenda, um grande navio de madeira tinha encalhado no golo da Rainha Maud. Quando os investigadores procuraram na área indicada encontraram de facto o barco, no fundo do mar.
A lenda inuíte contava ainda que um dos membros da ilha tinha encontrado, a bordo, um homem morto com um grande sorriso na cara, um detalhe que os especialistas consideram como indicativo de escorbuto a bordo.
Até hoje já foram recuperados canhões, pratos de cerâmica e outros objectos.
Terá sido também o relato de um membro de uma tribo inuíte que terá ajudado a encontrar o HMS Terror. Sammy Kogvik contou a Schimnowski que numa viagem de pesca com um amigo, em 2010, encontrou um pedaço de madeira que parecia um mastro. Schimnowski decidiu então procurar um barco perdido naquela área, o que acabou por resultar na descoberta histórica.

Influência da expedição falhada

Nos 171 anos que já passaram desde que zarpou a expedição, já foram feitas várias evocações artísticas sobre o sucedido.
Sir John Franklin tem uma estátua em sua honra na cidade natal onde se pode ler “Sir John Franklin – Descobridor da Passagem do Noroeste”, existindo também estátuas do capitão em Londres e na Tasmânia.
A expedição foi também tema de vários trabalhos literários. Ken McGoogan escreveu dois romances sobre o tema: Fatal Passage Lady Franklin’s Revenge. Uma peça de Wilkie Collins escrita com a assistência de Charles Dickens chamada The Frozen Deep decorre também à volta da expedição fatal.
Júlio Verne escreve sobre o Terror e o Erebus em pelo menos dois livros: uma das vezes através do Capitão Nemo no livro Vinte Mil Léguas Submarinas e em Journeys and Adventures of Captain Hatteras. Mark Twain escreveu uma sátira ao destino da expedição no seu conto Some Learned Fables for Good Old Boys and Girls. Joseph Conrad menciona também as duas embarcações na novela Coração das Trevas, o livro que influenciou o filme Apocalypse Now.
Vários documentários tiveram também como tema a viagem de Franklin pela passagem que liga o Atlântico e o Pacífico.
Muitas canções foram também escritas sobre a tragédia, sendo Lamento de Lady Franklin uma das mais famosas.
Fonte: Observador


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